terça-feira, 3 de abril de 2007

Profissão: Baderneiro

Na madrugada do dia 28 de março de 2007 estudantes africanos que residem na Casa dos Estudantes da Universidade de Brasília sofreram atentado homicida e racista de outros estudantes da comunidade.
É com a mensagem acima, sem vírgulas mesmo, que começa o vídeo-documentário, de alguns alunos raivosos da UnB, em que se denuncia um ataque 'homicida e racista' contra estudantes africanos. O curioso é que já se parte do pressuposto que o ataque foi racista mesmo, de tal maneira que parece desnecessário fornecer qualquer detalhe sobre o incidente, quem são os suspeitos, que animosidades passadas poderiam ter culminado no atentado etc. No final das contas, o motivo parece ter sido um desentendimento pessoal, música alta demais que incomodou um vizinho. Mas os manifestantes, nota-se logo, não estão interessados nessas picuinhas: querem protestar, gritar, exigir pedidos formais de desculpas sabe-se lá de quem, perturbar o reitor e simplesmente acabar com a paz de quem estiver por perto. Tudo isso, claro está, com muito barulho.

Reinaldo Azevedo, num post a respeito, aponta o surgimento de uma nova profissão: o africano. Trata-se de uma subdivisão de outra mais ampla, o baderneiro profissional. Esse pessoal passa o tempo a protestar, e faz questão de escancarar sua natureza violenta. Da musiquinha ao fundo, logo no início do vídeo (veja aqui): Temos que atacar, formemos nossa guerrilha, vamos arrebentar. Se o restante do mundo os oprimisse tanto quanto eles supõem (ou dizem supor), não haveria tempo para mais nada; seríamos todos opressores full-time. É uma mania de perseguição que chega às raias do patológico. Como convencer um lunático de que o mundo não foi concebido para destruí-lo?

O nec plus ultra do vídeo é o depoimento de um estudante africano que diz estar lá há mais de dez anos. Não se sabe ao certo o propósito de enfatizar tão larga experiência estudantil: talvez recordar o Trofimov, da O pomar de cerejas de Tchekhov, o eterno estudante. Talvez para dar alguma credibilidade à afirmação de que 'O atentado foi um ato isolado, mas tem contexto nacional'. Também não se sabe como algo pode ser simultaneamente isolado e contextualizado, mas o sujeito parece convencido de que ataques racistas são corriqueiros no Brasil. Fica, porém, uma dúvida cruel: por que diabos ele está lá há mais de dez anos? Nove anos já são suficientes para que um ser humano normal passe por uma graduação (de 5 anos), mestrado e doutorado. Somos forçados a concluir que ele continua lá por gosto, o que não deixa de ser estranho, de vez que ele garante que um estudante negro não pode nem sequer se dirigir do refeitório ao dormitório da UnB tranquilamente; correria o risco premente de ser espancado por uma horda de racistas malvados. Fora isso, teríamos de apelar para a hipótese desesperada de que o sujeito permanece lá porque gosta mesmo é de protestar. É o fetiche do oprimido em sua forma mais espetacular e asquerosa.

O alvo principal das manifestações é o reitor Timothy Mulholland. O coitado aparece completamente estupefato; não parece acreditar que tem a tarefa ingrata de dirigir uma instituição infestada com tantos arruaceiros. Quando candidamente pede ao cinegrafista que se identifique, lemos uma caption com os dizeres 'O reitor tenta intimidar a produção'. É em momentos como esse que se percebe a inutilidade (e a impossibilidade) de qualquer tipo de diálogo. Aristóteles aconselhava não discutir com quem não concorda com os 'princípios'. Um desses princípios consiste em saber enxergar onde se encontra a intimidação: num indivíduo que, sob a égide da Constituição, quer saber o nome de quem o filma, ou numa multidão com cartazes, pandeiros e reco-recos, que pula e se esgoela num auditório universitário. Se essa gente representar uma amostra significativa do meio estudantil brasileiro, já estamos muito além de qualquer salvação. Só nos resta chamar a polícia.

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