terça-feira, 4 de maio de 2010

Deus no cinema

Pode vir como surpresa o fato de os maiores filmes de 2009 tratarem, essencialmente, de religião.

Avatar encena uma tribo que às vezes parece se aproximar do cristianismo, às vezes (ou quase sempre) do ambientalismo romântico tão caro aos Camerons da política. Whatever Works é mais uma diatribe (a lista vai crescendo) de Woody Allen contra a ingenuidade intelectual de quem nasceu fora de Nova York ou acredita em Deus. A Serious Man, dos irmãos Coen, ridiculariza a insistência com que o homem tenta interagir com o divino. Não vi The Invention of Lying, mas o título é eloquente. E por aí vai.

No primeiro caso a divindade é imponente e até visualmente fascinante, mas a ganância capitalista parece bastar para destruí-la. No segundo ela nem sequer existe, e qualquer pensamento nesse sentido é ridículo. No terceiro, aprendemos que na mais das vezes é mais sábio deixá-la em paz. O único filme recente em que criador se impõe sobre criatura, em generosa concessão à terminologia, é The Book of Eli. O Deus desse filme é sem dúvidas poderoso e misterioso, mas não há garantias de que seria um líder inspirado. Denzel Washington, guardião do livro num mundo pós-apocalíptico, raramente cita passagens escriturais e faz um resumo franzino de todo seu aprendizado: dar aos outros mais que a si mesmo.

Em artigo na First Things, Thomas Hibbs comenta que Perhaps the most instructive lesson to take away from the religious themes in recent films is the way our popular culture seems to vacillate between essentially empty conceptions of a transcendent God and increasingly fertile notions of divine immanence. O divino pulula no imaginário popular - seja em florestas ou em desertos futurísticos -, mas o Deus que lhe dá nome é cada vez mais banal. Dado esse cenário, faz até sentido ser ateu.

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