domingo, 14 de setembro de 2008

Os Prazeres e os Dias

Marcel Proust tem um livrinho de textos aleatórios chamado Os Prazeres e os Dias. Li há algumas anos e não gostei muito, mas há nele declarações que acabaram por tornar-se celébres, como a de que a conversa é o passatempo do homem sem imaginação. Num outro texto ele declara que não entende a necessidade de viagens; pode imaginar e apreciar qualquer paisagem de dentro do seu quarto, imaginando-a. Os que não têm uma imaginação tão privilegiada, como eu e você, viajam e apreciam tudo em primeira mão. Mas é verdade que nós ao menos tentamos imaginar como a viagem vai ser; aliás, é bem provável que a tentiva dê a idéia da viagem. Quem está certo sobre o Rio de Janeiro: Nelson Rodrigues, Tom Jobim, ou o carioca mala que mora ao lado? etc.

Percebi com muito atraso que já não se viaja mais assim, ou pelo menos que não é o usual entre gente da minha idade. Hoje a idéia é visitar o leste europeu, o sudeste asiático e alguma ilha obscura e ver no que dá. Já pensou em visitar o Marrocos sem nem saber qual é a capital de lá? Pois é, nem eu. Mas é preciso, dizem, ter esse conhecimento de 'mundo', que de tão vago não poderia mesmo ter outro nome. É mais importante saber que rio corta os montes trans'Alpinos nas coordenadas 51.66, 0.05 (porque esse rio pertence a um país onde as baladas bombam mesmo, cara) a saber por que rota Vasco da Gama alcançou as Índias ou por onde chegou a ajuda francesa na guerra civil americana.

Suspeito que todo esse esforço, que praticamente equivale à criação de uma nova disciplina (chamemo-la de geografia adolescente, ou geografia mochileira), tem como objetivo final um pouco de orgulho próprio, principalmente se envolve a tradicional alfinetada nos americanos. A primeira das duas únicas pretensões intelectuais que o mochileiro tem é provar que o americano não sabe geografia; a segunda é mostrar que a sabedoria aumenta com a distância. São os dois únicos momentos em que, contrariando a própria natureza, o mochileiro exige certa seriedade dos ouvintes.

A segunda é mais interessante e merece um comentário: a distância, seja espacial ou temporal, exerce mesmo certo fascínio. Só que o fascínio advém do desconhecido, e o mochileiro procura o contrário disso. Ele viaja o mundo de ponta a ponta à procura de alguém que seja inteligente o suficiente para entendê-lo, isto é, alguém que seja exatamente como ele. Subvertendo a lógica da aventura clássica, o mochileiro sai bravamente à procura do que é perfeitamente conhecido. Proust estaria certo se estivesse se referindo a isso.

domingo, 31 de agosto de 2008

Sailing to Byzantium

THAT is no country for old men. The young
In one another's arms, birds in the trees
- Those dying generations - at their song,
The salmon-falls, the mackerel-crowded seas,
Fish, flesh, or fowl, commend all summer long
Whatever is begotten, born, and dies.
Caught in that sensual music all neglect
Monuments of unageing intellect.

An aged man is but a paltry thing,
A tattered coat upon a stick, unless
Soul clap its hands and sing, and louder sing
For every tatter in its mortal dress,
Nor is there singing school but studying
Monuments of its own magnificence;
And therefore I have sailed the seas and come
To the holy city of Byzantium.

O sages standing in God's holy fire
As in the gold mosaic of a wall,
Come from the holy fire, perne in a gyre*,
And be the singing-masters of my soul.
Consume my heart away; sick with desire
And fastened to a dying animal
It knows not what it is; and gather me
Into the artifice of eternity.

Once out of nature I shall never take
My bodily form from any natural thing,
But such a form as Grecian goldsmiths make
Of hammered gold and gold enamelling
To keep a drowsy Emperor awake;
Or set upon a golden bough to sing
To lords and ladies of Byzantium
Of what is past, or passing, or to come.

Minha intenção original era falar do filme dos Cohen (que a essa altura já popularizou, ou algo perto disso, o poema acima) mas, como geralmente ocorre, resolvi desviar o tema. Revendo o post em que colei poemas do Yeats (aqui), percebi que não colei esse, não sei bem por quê. Detesto ter que admitir, mas só fui reparar que ele tinha algo de especial depois de ver o filme. Um pretexto possível é que a temática se repete em vários outros poemas; outro, mais plausível, é que sou um leitor distraído de poesia. Mas vá lá.

Também é estranho eu não ter reparado nele porque o tema da velhice me interessa (nós não entendemos os mais velhos e o mais velhos, ao menos os que têm algo na cabeça, se envergonham pelos jovens). O velho-narrador, tanto no poema quanto no filme, prefere não passar julgamento sobre o mundo atual e simplesmente se declara incompatível com ele. Bom ou ruim, o certo é que our country não tolera mais a velhice, ou os velhos modos. A única passagem do poema em que o narrador ensaia uma objeção é o final da primeira estrofe: caught in that sensual music, all neglect monuments of unaging intellect. Todo o espetáculo da vida e da corruptibilidade da vida (whatever is begotten, born, and dies), apesar de muito bacaninha, pode nos levar a esquecer o que há de incorruptível, eterno, espiritual etc.

Nesse contexto o velho é coisa insignificante, mero declínio de algo que deve por força recomeçar. A menos, é claro, que um grande esforço (espiritual, já que a essa altura não se pode mais depender do corpo pra nada) seja empreendido no sentido de superar a decadência da matéria: unless soul clap its hand and sing, and louder sing. O problema é que a juventude, a mesma que tendia a negligenciar os monumentos do eterno, está fadada a falhar pois, segundo o narrador, não há escola para semelhante matéria que não o estudo das coisas mesmas que eles negligenciam: nor is there singing school but studying monuments of its own magnificence. É por isso que o velho decide ir para Bizâncio, espécie de monte Parnaso aos que têm sede do eterno. Bizâncio aparece em vários outros poemas do Yeats como símbolo de fertilidade cultural, mas nesse em particular (não lembro se é o único) há que considerar também seu aspecto sagrado: the holy city of Bizantium.

Na terceira estrofe começa a oração do narrador, que vai até o final do poema. Aqui a intenção é livrar-se de vez das vestes mortais (this dying animal) com o auxílio dos sábios da cidade. Na última estrofe o distanciamento é completo, não só do que é humano mas de tudo que é mortal: I shall never take my bodily form from any natural thing. Graças a um esclarecimento do próprio Yeats ficamos sabendo a que se refere a alusão a um imperador sonolento: "I have read somewhere that in the Emperor's palace at Byzantium was a tree made of gold and silver, and artificial birds that sang." Parece claro que o objetivo final do narrador é sair da esfera de influência do tempo, a ponto de ele mesmo poder passar a vida a falar das desventuras daqueles que não tiveram a mesma sorte: to sing... of what is past, or passing, or to come.

E o filme? O filme (ou melhor, o livro de Cormac McCarthy em que ele é baseado) serve como reconhecimento do fato de que a preocupação dos 'bons', hoje, é antes de tudo sobreviver. Queixar-se de falta de sofisticação cultural ou de falta de consideração pelos mais antigos ja é coisa bem pueril nesse contexto. Tommy Lee Jones, o 'velho' do filme, diz não saber o que pensar de tanta violência, mas já não são só os velhos que não sabem. É engraçado observar como qualquer preocupação, para se dizer moderna, transforma-se numa questão de sobrevivência. Pelo menos em termos de imaginação os primitivos somos nós.

domingo, 17 de agosto de 2008

Disk Sto. Agostinho

Você está pensando em prestar um concorridíssimo exame de teologia na faculdade mais próxima (de que diabos estou falando?) ou simplesmente não quer passar vergonha perante aqueles que ainda se importam com o assunto? Disk Sto. Agostinho.

Escalopilda dos Santos, de Teresina, Piauí, quer saber se Deus também tem braços e pernas, um nariz e dois olhos etc., já que leu em sua Bíblia (aquela edição para 'estudos femininos' (?)) que o homem foi criado à imagem de Deus. Sto. Agostinho responde:
Não sabia que Deus é espírito e que não possui membros com medidas de comprimento e largura; nem é matéria, porque a matéria é menor em sua parte que no seu todo. Ainda que a matéria fosse infinita, seria menor em alguma de suas partes, limitada por certo espaço, do que na sua infinitude; nem se concentra inteira em qualquer parte, como o espírito, como Deus. Ignorava totalmente que princípio havia em nós, segundo o qual existimos, e por que se diz na Sagrada Escritura que fomos feitos à imagem de Deus.
Romerito José, de Orós, Ceará, ouviu dizer que o último papa se desculpou por não sei que atitude de um papa antigo e quer saber como isso pode, já que aprendeu da avó que a justiça divina é imutável e eterna. Sto. Agostinho responde:
Assim fazem aqueles que se irritam ao ouvir dizer que noutros tempos se permitia aos justos o que agora lhes é vedado, e que Deus deu ordens diversas segundo as circunstâncias de tempo, estando todos sujeitos à mesma justiça. Esses tais não vêem como, no mesmo dia, na mesma casa, o que convém a um membro não convém a outro, o que há pouco era permitido já não é agora; certos atos que eram lícitos e até prescritos aqui, agora são lá proibidos e punidos. Por acaso a justiça é desigual e mutável? Não, os tempos que ela preside não caminham da mesma forma, e justamente por isso se denominam tempos. Os homens -- cuja vida terrana é breve -- são incapazes de harmonizar as razões válidas em séculos passados e de outros povos, que escapam à sua experiência, com os dados que a própria experiência lhes fornece. Eu não conhecia, não percebia todas essas coisas.
Regina Casé, repórter da Globo e especialista em favelas, quer saber de onde vem o mal. Segundo Regina, os moradores da periferia são particularmente virtuosos e criativos, de maneira que os crimes da região representam para ela um grande enigma. Sto. Agostinho responde:
Vi claramente que as coisas corruptíveis são boas. Não se poderiam corromper se fossem sumamente boas, ou se não fossem boas. Se fossem absolutamente boas, não seriam corruptíveis. E se não fossem boas, nada haveria o que corromper. A corrupção de fato é um mal, porém não seria nociva se não diminuísse um bem real. Portanto, ou a corrupção não é um mal, o que é impossível, ou -- e isto é certo -- tudo aquilo que se corrompe sofre uma diminuição de bem. Mas privadas de todo bem, deixariam inteiramente de existir. Mas haverá maior absurdo do que afirmar que as coisas se tornariam melhores perdendo todo o bem? Portanto, se são privadas de todo o bem, deixarão totalmente de existir. Logo, enquanto existem, são boas. E aquele mal, cuja origem eu procurava, não é uma substância. Porque, se fosse, seria um bem.
Disk Sto. Agostinho.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

O Deus Idiota do Rock

Depois ainda dizem que eu implico com rockeiros. Deve ser porque não lêem entrevistas como a que Chris Martin, vocalista do Coldplay, deu à Veja semana passada. Dos muitos assuntos que pessoas potencialmente idiotas (categoria em que todos os rockeiros estão inseridos, ainda que, ou talvez por isso mesmo, tenham um PhD em Stanford) devem evitar, Martin deve ter abordado quase todos.

A primeira idiotice, tão comum que chega a ser aceitável, é dizer que não ouve os próprios discos porque a incessante busca pela perfeição etc. Pode até ser verdade, mas isso não se diz numa entrevista. Não 100 anos depois de já ter ficado claro que esse tipo de comentário não passa de pedantismo barato. A segunda é comentar as eleições americanas. Esse assunto deveria ser proibido entre 'artistas'. Mas Martin se supera: "Apóio Obama porque sou inteligente." É claro que, se tivesse dito que apóia McCain porque é inteligente, a resposta teria sido igualmente idiota. Depois dispara os juízos de sempre: Obama tem a mente mais aberta (seja isso o que for) etc. Quando apontam uma aparente contradição, a resposta também é a de sempre: parece, mas não é. Porque eu acho que sim.

Há mais. Leiam aqui.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Estética Cristã

12. And it was told king David, saying, The Lord hath blessed the house of Obededom, and all that [pertaineth] unto him, because of the ark of God. So David went and brought up the ark of God from the house of Obededom into the city of David with gladness.

13. And it was [so], that when they that bare the ark of the Lord had gone six paces, he sacrificed oxen and fatlings.

14. And David danced before the Lord with all [his] might; and David [was] girded with a linen ephod.

15. So David and all the house of Israel brought up the ark of the Lord with shouting, and with the sound of the trumpet.

16. And as the ark of the Lord came into the city of David, Michal, Saul's daughter, looked through a window, and saw king David leaping and dancing before the Lord; and she despised him in her heart.

17. And they brought in the ark of the Lord, and set it in his place, in the midst of the tabernacle that David had pitched for it: and David offered burnt offerings and peace offerings before the Lord.

18. And as soon as David had made an end of offering burnt offerings and peace offerings, he blessed the people in the name of the Lord of hosts.

19. And he dealt among all the people, [even] among the whole multitude of Israel, as well to the women as men, to every one a cake of bread, and a good piece [of flesh], and a flagon [of wine]. So all the people departed every one to his house.

20. Then David returned to bless his household. And Michal the daughter of Saul came out to meet David, and said, How glorious was the king of Israel to day, who uncovered himself to day in the eyes of the handmaids of his servants, as one of the vain fellows shamelessly uncovereth himself!

21. And David said unto Michal, [It was] before the Lord, which chose me before thy father, and before all his house, to appoint me ruler over the people of the Lord over Israel: therefore will I play before the Lord.

22. And I will yet be more vile than thus, and will be base in mine own sight: and of the maidservants which thou hast spoken of, of them shall I be had in honour.

23. Therefore Michal the daughter of Saul had no child unto the day of her death.
Já aconteceu mais de uma vez de eu receber como resposta, logo após ter criticado o entusiasmo desenfreado de alguns cultos protestantes, os versículos acima, do segundo livro de Samuel (sexto capítulo). Ou isso ou o quarto provérbio do 14, Provérbios: Where no oxen are, the crib is clean: but much increase is by the strength of the ox.

A idéia, como parece ficar claro, é que se quisermos espalhar a palavra de Deus pode ser necessário suportar certa dose de aviltamento; abrir mão de um ou outro tipo de dignidade terrena; despir-se das vestes reais e ter com o povão. A opinião pública, dirão com razão, não é o nosso Deus. Ou isso ou a esterilidade (pelo menos na King James Bible, a causalidade fica explicitada com o 'therefore' do verso 23).

O provérbio fala da nossa muito comum mania de 'limpeza', da força que se desperdiça em nome dela. O culto mais febril seria uma maneira de libertar-se das convenções, da opinião pública etc. e deixar patente que há uma mensagem que todos podem e devem conhecer.

A interpretação do primeiro trecho me parece perfeita, tanto que nada tenho a acrescentar. O problema com a leitura do provérbio é que, assim como normalmente acontece com leituras de comparações envolvendo animais, ela não considera que não somos animais. O boi vai sempre fazer sujeira, mas nós não necessariamente. Aceita-se de bom grado a sujeira do boi porque ele não poderia fazer diferente.

Está claro que, dependendo da situação, a sujeira pode ser necessária, estejamos nós falando de bois ou humanos. Nesses casos não há o que objetar. Mas seria o culto um desses casos? Essa conversa de que o culto amalucado seria uma maneira de libertar-se da opinião pública soa como qualquer discurso de afirmação: um tanto ridículo. Se a intenção é dar à opinião pública a sua devida importância (pouca ou nenhuma), por que diabos pautar o culto (que, de resto, é dirigido a Deus, não a nós) em nome dela? É mais ou menos como sujeito que não quer acordar às 10 horas e ajusta um aviso sonoro, altíssimo, às 10 horas: 'lembrar de não acordar às 10 horas'.

Não sou a priori avesso ao entusiasmo, apesar de achar que a circunspecção tem tudo a ver com esses momentos (pelo jeito não só eu, a julgar pelas composições sacras desde sempre até 100 anos atrás) -- lembrando que Davi não estava num culto dominical, mas comemorando por um bom, e excepcional, motivo. Sou avesso, sim, a velhos e marmanjos saltitando ao som de um rock'n'roll evangélico improvisado. É no mínimo curioso ter de avisar isso logo aos cristãos, herdeiros da maior tradição estética de que se tem notícia. É a nossa crise de esquecimento em uma de suas manifestações mais melancólicas.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Histórico de Preguiça

Este blog tem um belíssimo histórico de preguiça. Procurei escrever uma ode ao ócio a cada vez que ficava de férias (aqui e aqui). Está claro que isso não poderia durar para sempre.

Agora que minhas férias foram sacrificadas, posso ao menos verificar algo de que desconfiava desde há muito: o sujeito ocupado demais pensa muito pouco. Claro que esse meu 'ocupado' diz respeito a ocupações hodiernas; Tucídides não pensou menos por ter participado da guerra do Peloponeso, antes o contrário.

As ocupações hodiernas são as que primam pela rotina, pela homogeneização, pela sistematização. A linguagem par excellence dessa nova realidade não poderia ser outra que não a linguagem de programação computacional. É o artifício que nos permite repetir indefinidamente um processo relativamente simples, sem risco de erro. Ocorre que a repetição não deixa de existir, apenas foi automatizada. Digo isso porque o funcionário está sempre sob a impressão de que tudo quanto é repetitivo é feito pelo computador, enquanto aquilo que exige espontaneidade e criatividade continua sob a jurisdição do homem. Ora, nem tudo que ainda não foi automatizado exige criatividade; muitas dessas coisas só não foram automatizadas porque ainda não surgiu alguém que soubesse fazê-lo. E a tendência é que esse alguém surja num futuro próximo.

O fato é que, no white-collar job, mesmo as tarefas ditas mais nobres são, no fundo, de natureza repetitiva. Desgraçadamente, a mente humana parece se refestelar na repetição: imprime-se um ritmo e não se fala (pensa) mais nisso. Não parece muito difícil concluir que uma tal rotina leva fatalmente ao esquecimento (o contrário do que Nietzsche entendia por memória quando dizia que o homem superior é aquele de mais larga memória). Filosofia, para Ortega y Gasset, consiste mais ou menos no constante processo de tomada de decisões que nossas vidas nos sugerem. Essas sugestões podem ser percebidas ou não, e, ao que parece, só as percebemos quando não há mais jeito.

É bem verdade que o ócio pode (estranho seria se não pudesse) levar a uma inanição mental igual ou pior. Mas pelo menos não leva a esse caminho necessariamente. Já a correria do escritório não nos deixa outra alternativa que não seguir correndo. E o que é pior: ao final do dia, ainda resta a impressão de que o tempo foi bem aproveitado. Alas, se o aproveitamento for medido em bits, não estaremos errados.

terça-feira, 8 de julho de 2008

A Perversão Feminina

A mulher está sempre à procura de boas maneiras de esconder sua perversão. Isso faz sentido: a mulher tem todo o direito de ser pervertida, só não tem direito de deixar que os outros o percebam. É natural esperar que numa época de mau gosto generalizado os estratagemas mais comumente utilizados pelas mulheres também sejam de mau gosto.

Um dos mais batidos é o cinema. Nunca (OK, pelo menos não num futuro próximo) vai ser constrangedor dizer numa mesa de bar que tal ou qual filme de Woody Allen, Almodóvar ou Bertolucci é uma maravilha (por mais que o filme seja uma porcaria). Woddy Allen, reconhecendo a necessidade premente que a mulher tem de expressar sua perversão por canais socialmente aceitáveis, escreve roteiros em que a putaria rola solta e ainda posa de intelectual. Já perceberam que só mulheres e gays admiram Allen como escritor?

Por mais que os tempos se modernizem a mulher vai sempre resguardar uma distância de segurança em relação ao homem. A mulher só poderá declarar publicamente que aprecia filmes pornográficos quando o homem inventar algum divertimento ainda mais tosco. Isso parece injusto, mas imaginem a desgraça que adviria caso resolvessem mudar as regras: as únicas razões de ser da união heterossexual seriam anatômicas (elas sozinhas são determinantes, mas estão longe de ser as únicas).

Ontem vi uma atriz pornô sendo malhada no programa da Luciana Gimenez. Se até o programa da Luciana Gimenez ainda vê algo de censurável na pornografia (não que isso seja coerente com o conteúdo do resto do programa), o mundo não está perdido.